Foram os manifestos da Semana de Arte Moderna de 1922 e da Antropofagia de 1929 que deram o tom da vanguarda literária brasileira nos anos 20. No mesmo momento no Peru é um livro mesmo, explorado como objeto poético, que cristaliza o avanço vanguardista. Estou falando de 5 metros de poemas, de 1927, de Carlos Oquendo de Amat (1905-1936), um livro acordeão que se desdobra até atingir cinco metros, cheio de imagens e uma diagramação inovadora.
Surrealismo no porto (Notas do Peru – parte 4)
Por: Alessandro Atanes
25 de Outubro de 2010 às 20:10
Oquendo tomou parte do mais expressivo grupo da vanguarda literária peruana, ao lado de César Vallejo, Martín Adán e César Moro. Nos 5 metros de poemas encontramos algumas imagens portuárias, como em Porto, escrito, assim como todo o livro, sob a influência dos movimentos ultraísta, que Borges levou da Espanha para a Argentina, e surrealista. A seguir, a primeira tradução do poema no Brasil.
p o r t o
O perfume virou uma árvore
e voam as cores
dos transatlânticos
No cais
de todos os lenços se fez uma flor
Vai cantando a música linear de um barco
e o calor pasta a lua
De uma taverna
um marinheiro
tira das garrafas filmes projetados da infância
Ele á agora Jack Brown que persegue o cowboy
e o assovio é um cavalo do Arizona.
UM SUSPIRO ATRÁS DA MONTANHA
E para que ria
a brisa traz
as cinco pétalas uma canção
Na imagem, é possível notar a diagramação inovadora
Outro achado é Antuérpia, poema que leva o nome da cidade portuária Belga. Abaixo, a parte final do poema em que o porto é chamado de “envelope postal do mundo”. A diagramação, assim como em Porto, segue a da coletânea onde os poemas foram encontrados.
a n t u é r p i a
Antuérpia
O c a l o r é c o m o u m p e n s i o n i s t a
Antuérpia
É A CIDADE LÍRICA É A CIDADE ELÁSTICA
É a cidade sem distâncias
as ruas são suspensórios de borracha
As crianças no primário aprendem o problema da localização
e assim como por um chapéu
(ato mecânico)
basta esticar uma esquina
para se sentir projetado da escola para a porta das (docerias
Antuérpia
é um vinho de amizade
é o envelope postal do mundo
agora
Os navios educados e há saudações para América
regressam a seus ninhos nas fontes de água.
Encontrei os dois poemas na coletânea Vuelta a la otra margen (Volta à outra margem), editada em 1970, que, além de Oquendo, Moro e Adán, traz também poemas de Emilio Adolfo Westphalen, Jorge Eduardo Eielson e Leopoldo Chariarse. De acordo com os selecionadores Mirko Lauer e Abelardo Oquendo, o motivo da coletânea foi que naquele momento não se editavam mais esses poetas. E agora eles chegam aqui neste Porto Literário.
Pós escrito
Agradeço publicamente o poeta Óscar Limache, que me levou ao Paraíso dos Livros, reunião de bancas de livros usados no centro de Lima onde pude conseguir estas e outras jóias da literatura peruana, sem contar uma edição em espanhol de La Barcarola, de Pablo Neruda, com o poema Santos Revisitado, que até o momento só conhecia na tradução da editora LP&M.
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Referência
Carlos Oquendo de Amat. Puerto e Amberes. In: Vuelta a la outra margen. Seleção de Mirko Lauer e Abelardo Oquendo. Lima, Peru: Casa de la Cultura, 1970.
FUENTE: https://portogente.com.br/colunistas/alessandro-atanes/32427-surrealismo-no-porto-notas-do-peru-parte-4
Creditos de la imagen :
https://www.noticiasaominuto.com/cultura/1113392/coimbra-acolhe-exposicao-de-surrealismo-com-mais-de-100-artistas